quarta-feira, 23 de junho de 2010

Ausência

Eu deixei que morra em mim o desejo
de amar os teus olhos que são doces
Porque nada te poderei dar senão a mágoa
de me veres eternamente exausto
No entanto a tua presença é qualquer coisa
como a luz e a vida

E eu sinto que em meu gesto existe o teu gesto
e em minha voz a tua voz
Não te quero te porque
em meu ser está tudo terminado
Quero só que surjas em mim
como a fé nos desesperados

Vinicius de moraes

domingo, 13 de junho de 2010

80 anos de poesia

Os degraus
"Não desças os degraus do sonho
Para não despertar os monstros.
Não subas aos sótão - onde
Os deuses, por trás das suas máscaras,
Ocultam o próprio enigma.
Não desças, não subas, fica.
O mistério está é na tua vida!
E é um sonho louco este nosso mundo..."
Mario Quintana.

sábado, 5 de junho de 2010

Pense nisso

Esses dias me espantei com a frieza das pessoas, não falo só dos que estavam ao meu redor, mas de mim também. Passou um carro do resgate¹, e eu olhei como se fosse mais um carro, como se fosse algo comum, e quando percebi minha total falta de preocupação ou admiração de ver o resgate 7h da manhã tive vergonha de mim mesma. E quando observei que havia pessoas que simplesmente não notaram a presença de uma sirene e uma luz vermelha refletir nos seus olhos me deixou angustiada.
Isso sim, me faz acreditar que estamos no fim dos tempos, como o ser humano não consegue ter um pingo de empatia ao próximo? Não peço pra que chore, ou tenha compaixão por alguém que talvez você nem conheça, mas pelo menos tente se importar, não sei... Eu não consigo pensar em uma palavra adequada para um sentimento que eu não tive quando me encontrei em uma situação dessas.

¹: eu não sei muito bem como se pronuncia, se o correto é carro ou ambulância.

sexta-feira, 4 de junho de 2010

O poeta aprendiz.

Ele era um menino
Valente e Caprino
Um pequeno infante
Sadio e grimpante
Anos tinha dez
E asas nos pés
Com chumbo e bodoque
Era plic e ploc
O olhar verde gaio
Parecia um raio
Para tangerina
Poão ou menina
Seu corpo moreno
Vivia correndo
Pulava no escuro
Não importa que muro
Saltava de anjo
Melhor que marmanjo
E dava o mergulho
Sem fazer barulho
Em bola de meia
Jogava de meia-direita ou de ponta
Passava da conta
De tanto driblar
Amava era amar
Amava Leonor
Menina de cor
Amava as criadas
Varrendo as escadas
Amava as gurias
Das ruas, vadias
Amava suas primas
Com beijos e rimas
Amava suas tias
Com peles macias
Amava as artistas
Das cine-revistas
Amava a mulher
A mais não poder
Por isso fazia
Seu grão de poesia
E achava bonita
A palavra escrita
Por isso sofria
De melancolia
Sonhando o poeta
Que quem sabe um dia
Poderia ser.

terça-feira, 1 de junho de 2010

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A amante


Queria poder resumir em poucas linhas e poder transmitir tudo o que se passou, e também o meu sentimento para essas páginas com sua real intensidade, mas é impossível, vocês terão de imaginar como tudo realmente aconteceu...
Chamo-me Eduarda, nasci no interior de Minas Gerais; na época em que tudo aconteceu tinha apenas 17 anos. Tive uma vida simples, sofrida; com cinco irmãos e uma mãe viúva a única solução foi trabalhar desde muito nova, com apenas doze anos já limpava a casa e cuidava dos meus irmãos, enquanto minha mãe trabalhava. Acabei largando os estudos aos quinze anos, não terminei o colégio. Logo eu que adorava estudar, melhores notas e redações, todos diziam que teria futuro, que seria uma ótima escritora ou até uma excelente artista, pois fazia quadros maravilhosos. Para mim nada tinha importância a não ser a escola, em minha visão o amor não era nada mais que perda de tempo, tinha dó dos apaixonados. Dó? Que sentimento mais desprezível, uma piada vindo logo de mim... Uma errante do amor.
Com o tempo aceitei a não estudar e trabalhar; aceitei que meu futuro não seria muito diferente do de minha mãe, e de muitos do inteiror de minas. E lá estava eu, sem futuro e sem amor, o qual não achava necessário, pois de sofrimento eu já muitos e não precisava de mais tristeza. Vivi mais quinze anos com esses pensamentos pessimistas do que é a vida, do que é o amor.
Hoje estou com trinta anos, demorei tanto pra descobrir o grande significado do amor, demorei tanto para entender os grandes poemas de Machado de Assis e Vinicius de Moraes; agora eu sei o que é felicidade, o que é sorrir de verdade, o tão falado frio na barriga, os olhos brilharem, e também sei o que é chorar e soluçar, perder o ar, se sentir no fundo do poço; hoje eu finalmente sei o que é amar. Demorei trinta anos para me apaixonar.
Em uma tarde insolarada, típica da minha cidade, vi um rapaz, o qual me chamou muita atenção, um novo vizinho, que cantava e tocava perfeitamente, com a voz apaixonante, um sorriso enigmático, um olhar sincero e uma simpatia de se admirar.

Viramos amigos, todas as tardes lá ia eu sem sua janela cantarolar até o sol se por, cantávamos até o nosso repertório se acabar e riamos por horas. Admito que ele não era o mais belo, mas o seu bom humor lhe trazia um certo charme, tinha total facilidade em me fazer soltar enormes gargalhadas. Eu pensava que éramos apenas amigos, pelo menos por minha parte; até o dia em que ele me cantou uma música escrita por Vínicius de Moraes (Eu sei que vou te amar).

De repente senti como se houvesse borboletas no meu estomago, seu olhar era tão penetrante ao meu que me sentia como se fossemos um só, me peguei cantando junto a ele, não consiguia conter minha felicidade. Pensava que estava nas nuvens, não consigo descrever meu sentimento naquele momento, até que então ele me beijou. Eu disse que estava nas nuvens? Pois bem, me enganei, não tinha chegado a elas até então. Depois disso, nos víamos todos os dias, nosso beijo era como chave e fechadura; encaixávamos-nos completamente. Percebi que o amava de verdade, mas sentia a mulher mais feliz do mundo; até o dia em que o vi cantando novamente em sua janela, e havia outra mulher em meu lugar, diferente de mim e ao mesmo tempo igual a mim, o mesmo sorriso apaixonado, o mesmo brilho no olhar.

Senti os efeitos do amor, uma tristeza sem fim, um ódio, uma dor no peito, sentia algo entalado em minha garganta que não saia, perdi o ar chorando pela primeira vez, agora sim eu conhecia o amor, agora sim eu entendia o amor, entendia porque os poetas eram tristes e porque sofriam tanto para escrever.

Resolvi então pintar aquela cena que me fazia tão mal, resolvi então fazer do triste minha alegria, pois adorava pintar, me sentia mais calma e leve; não sabia que o quadro me traria uma vida melhor, me traria de volta a minha verdadeira e real paixão: os estudos. Com este quadro que você viu acima, eu tive a oportunidade de voltar aos estudos, terminar o colegial e até prestar uma faculdade, sai do interior de Minas e fui para São Paulo, fiz escola das artes, me formei, e hoje sinto borboletas no meu estomago noavmente, meus olhos brilham e meu sorriso é feliz novamente. Hoje eu sou artista, meu grande amor é o profissional, o artístico.

Sempre fui uma amante, mas pela arte, pela história, pelas letras e desenhos, lembro daquele rapaz o qual me apaixonei com total alegria e gratidão, pois se não fosse ele, um eterno conquistador, eu não seria o que sou hoje. Uma amante.