terça-feira, 1 de junho de 2010

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A amante


Queria poder resumir em poucas linhas e poder transmitir tudo o que se passou, e também o meu sentimento para essas páginas com sua real intensidade, mas é impossível, vocês terão de imaginar como tudo realmente aconteceu...
Chamo-me Eduarda, nasci no interior de Minas Gerais; na época em que tudo aconteceu tinha apenas 17 anos. Tive uma vida simples, sofrida; com cinco irmãos e uma mãe viúva a única solução foi trabalhar desde muito nova, com apenas doze anos já limpava a casa e cuidava dos meus irmãos, enquanto minha mãe trabalhava. Acabei largando os estudos aos quinze anos, não terminei o colégio. Logo eu que adorava estudar, melhores notas e redações, todos diziam que teria futuro, que seria uma ótima escritora ou até uma excelente artista, pois fazia quadros maravilhosos. Para mim nada tinha importância a não ser a escola, em minha visão o amor não era nada mais que perda de tempo, tinha dó dos apaixonados. Dó? Que sentimento mais desprezível, uma piada vindo logo de mim... Uma errante do amor.
Com o tempo aceitei a não estudar e trabalhar; aceitei que meu futuro não seria muito diferente do de minha mãe, e de muitos do inteiror de minas. E lá estava eu, sem futuro e sem amor, o qual não achava necessário, pois de sofrimento eu já muitos e não precisava de mais tristeza. Vivi mais quinze anos com esses pensamentos pessimistas do que é a vida, do que é o amor.
Hoje estou com trinta anos, demorei tanto pra descobrir o grande significado do amor, demorei tanto para entender os grandes poemas de Machado de Assis e Vinicius de Moraes; agora eu sei o que é felicidade, o que é sorrir de verdade, o tão falado frio na barriga, os olhos brilharem, e também sei o que é chorar e soluçar, perder o ar, se sentir no fundo do poço; hoje eu finalmente sei o que é amar. Demorei trinta anos para me apaixonar.
Em uma tarde insolarada, típica da minha cidade, vi um rapaz, o qual me chamou muita atenção, um novo vizinho, que cantava e tocava perfeitamente, com a voz apaixonante, um sorriso enigmático, um olhar sincero e uma simpatia de se admirar.

Viramos amigos, todas as tardes lá ia eu sem sua janela cantarolar até o sol se por, cantávamos até o nosso repertório se acabar e riamos por horas. Admito que ele não era o mais belo, mas o seu bom humor lhe trazia um certo charme, tinha total facilidade em me fazer soltar enormes gargalhadas. Eu pensava que éramos apenas amigos, pelo menos por minha parte; até o dia em que ele me cantou uma música escrita por Vínicius de Moraes (Eu sei que vou te amar).

De repente senti como se houvesse borboletas no meu estomago, seu olhar era tão penetrante ao meu que me sentia como se fossemos um só, me peguei cantando junto a ele, não consiguia conter minha felicidade. Pensava que estava nas nuvens, não consigo descrever meu sentimento naquele momento, até que então ele me beijou. Eu disse que estava nas nuvens? Pois bem, me enganei, não tinha chegado a elas até então. Depois disso, nos víamos todos os dias, nosso beijo era como chave e fechadura; encaixávamos-nos completamente. Percebi que o amava de verdade, mas sentia a mulher mais feliz do mundo; até o dia em que o vi cantando novamente em sua janela, e havia outra mulher em meu lugar, diferente de mim e ao mesmo tempo igual a mim, o mesmo sorriso apaixonado, o mesmo brilho no olhar.

Senti os efeitos do amor, uma tristeza sem fim, um ódio, uma dor no peito, sentia algo entalado em minha garganta que não saia, perdi o ar chorando pela primeira vez, agora sim eu conhecia o amor, agora sim eu entendia o amor, entendia porque os poetas eram tristes e porque sofriam tanto para escrever.

Resolvi então pintar aquela cena que me fazia tão mal, resolvi então fazer do triste minha alegria, pois adorava pintar, me sentia mais calma e leve; não sabia que o quadro me traria uma vida melhor, me traria de volta a minha verdadeira e real paixão: os estudos. Com este quadro que você viu acima, eu tive a oportunidade de voltar aos estudos, terminar o colegial e até prestar uma faculdade, sai do interior de Minas e fui para São Paulo, fiz escola das artes, me formei, e hoje sinto borboletas no meu estomago noavmente, meus olhos brilham e meu sorriso é feliz novamente. Hoje eu sou artista, meu grande amor é o profissional, o artístico.

Sempre fui uma amante, mas pela arte, pela história, pelas letras e desenhos, lembro daquele rapaz o qual me apaixonei com total alegria e gratidão, pois se não fosse ele, um eterno conquistador, eu não seria o que sou hoje. Uma amante.

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